Dining in the Dark, restaurante no escuro, jantar sensorial em Kuala Lumpur, Malásia

Restaurante no escuro: jantar sensorial em Kuala Lumpur

Quando li o primeiro artigo sobre o assunto, despertou minha curiosidade para saber como é jantar num restaurante no escuro. Famoso em Paris e em Londres, o restaurante Dans le Noir (no escuro) sempre esteve em minha wishlist de experiências de viagem.

Mas antes que eu voltasse à Europa, tive uma grata surpresa ao chegar em Kuala Lumpur, capital da Malásia, e descobrir o Dining in the Dark.

O restaurante fica na rua Changkat, a mais agitada da cidade, no bairro de Bukit Bintang, ao lado de bares, pubs e outros restaurantes badalados. A estreita fachada pintada de preto chama a atenção em direção à escada também em preto ladeada por velas acesas. Soa um tanto macabro rs mas não é.

Lá em cima, me deparo com um bar, Forbidden City, ambiente escurinho, música lounge, decoração diferentona que brinca com jogos de luz e imagens sensuais.

À direita, enxergo o nome do restaurante destacado em luz de neon e, ao fundo, uma foto em preto e branco com Ray Charles sorrindo largo me recebe calorosamente.

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Butik Bintang, rua de noites animadas em Kuala Lumpur.
Butik Bintang, rua de noites animadas em Kuala Lumpur.

Restaurante no Escuro, primeiros momentos

O bar comprido e cheio de garrafas de bebidas nos nichos na parede é a recepção. A simpática atendente me leva ao sofá e para começar, serve um welcome drink para eu descobrir os ingredientes. Provo e sinto o a presença de laranja, alecrim e… não identifico o terceiro: pêssego, de sabor muito sutil.

Em seguida, ela me pede para colocar a máscara de olhos e encontrar dois clips num pote de arroz. Diz que é para aguçar os sentidos.

Então ela me explica como funciona a brincadeira. O objetivo é nos levar a uma viagem sensorial gastronômica única e aguçar os outros sentidos. Paladar, olfato, tato e audição são prejudicados em nosso cotidiano pela nossa visão.

O menu degustação de quatro pratos, renovado periodicamente, é surpresa. Ela pergunta se há alguma restrição alimentar ou algum ingrediente que não gostamos. O resto fica por conta do chef.

Ela conta que todos os garçons têm deficiência visual e o meu se chama A.K. Pede para eu não esquecer seu nome, porque é a única maneira de chamar sua atenção no escuro. Me acalma (mas não estou preocupada) dizendo que se eu me sentir mal ou precisar de ajuda lá dentro, é só avisar A.K., que ele me traz para fora. Mas isso não aconteceria. Já estou adorando a experiência.

Guardo meus pertences todos num armário com cadeado e levo a chave. Nem celular, nem relógio iluminado pode entrar.

A porta à minha frente se abre e A.K. aparece para me levar ao salão. Apoio minhas mãos nos ombros de A.K. e mergulho no escuro.

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Welcome drink antes de entrar no restaurante no escuro

Percebendo a escuridão

A.K. me tranquiliza dizendo que não há degraus e logo me mostra a cadeira, pedindo para eu senti-la com a mão. Me sento e aguardo, por mais que eu me force o olhar, tudo breu à minha volta.

Ele discorre sobre a posição dos objetos na mesa da direita para a esquerda em sentido anti-horário. Tateio e encontro garfo, colher, descanso de copo… sem copo. Esta é a primeira etapa para não derrubá-lo. Avisa para pegar o copo por baixo para não correr o risco de derramar. Faca à esquerda, guardanapo no colo. A.K. sai para buscar a entrada e me deixa sozinha.

Aproveito para explorar o meu redor. Sentei no canto de uma mesa de 3 grudadas, tateio pra ver se são redondas ou quadradas. São quadradas forradas com couro. As cadeiras têm couro entrelaçado. Sem toalha.

Ouço ao longe um grupo de mulheres rindo. Aniversário.

Realço minha audição. Ao meu lado um casal chega, voz masculina e feminina. Sai um homem sozinho, chega outro casal, duas vozes masculinas. Um grupo entra, vozes misturadas, parecem jovens. Ouço A.K. falando com eles. O grupo ri bastante, se divertindo quando consegue brindar o vinho no escuro. De repente um barulhão… o q será q caiu? Risadas mostram que está tudo bem.

Um dos rapazes sentados perto de mim, no outro canto, começa a tatear a mesa e a cadeira à sua volta. Sinto o barulho chegar perto de mim… coloco a mão para me proteger da mão boba inocente.

Fico em silêncio para ver o que acontece. Quando ele encosta no meu braço, morre de vergonha e pede desculpas. Penso que estavam falando alemão, tomando cerveja Heineken.

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A experiência: restaurante no escuro

A.K. chega com minha entrada. Me diz que são quatro pratos e orienta por onde começar e terminar. Primeiro à direita embaixo, depois vá em sentido anti-horário.

Sinto o formato dos pratos, quentes e frios, quadrados, redondos, curvilíneos. Todas pequenas porções acondicionadas em uma bandeja de madeira com nichos. Cheiro cada um deles. Tento sentir o sabor, as texturas, os temperos, os aromas, pouco resultado satisfatório. São duas entradas quentes e duas frias.

A primeira, fria, agridoce, legumes, gergelim, cenoura, rolinhos primavera – minha impressão. A segunda, quente, adorei… carne moída com molho de tomate e mais alguma coisa. A terceira também quente têm vieiras, não gostei. A última, fria, não lembro mais!

Tateio com a colher as comidas para ver se como com colher ou garfo. As porções são pequenas e não precisam de faca. Enquanto vou comendo, sinto o peso da comida na colher… melhor do que comer com garfo. Este é um desafio: como colocar a comida na colher! Às vezes cai, outras vem vazia.

A.K. percebe que eu terminei, me pergunta qual prato mais gostei e quais ingredientes eu reconheci. Ele apenas ri e retira a bandeja. Volto minha atenção ao ambiente novamente.

Vejo luzes, clarões, linhas e bolinhas… será que estou vendo meu próprio olho no escuro?

Sopas, carnes e sobremesas

A.K. me interrompe trazendo a bandeja de sopas. São duas, um caldo Tom Yam com capim cidreira bem refrescante e um creme de aspargos. Só identifico o primeiro na degustação.

E o processo se repete. A.K. nota que eu terminei, pergunta o que descobri e leva a bandeja.

Demora um pouco para trazer o prato principal e me conta que são três cumbucas e orienta a ordem para experimentar: nhoque, peixe e carne tão macia que acreditava ser bife mas era carneiro.

Finalizo com a sobremesa. Cinco tipos diferentes: sorvete de limão mas era lichia, doce de abacaxi mas era manga com laranja, um bolinho frito, um veludo vermelho de morango e um que não faço ideia do que era.

Não dou conta de comer tudo. Jogo a toalha. É muita comida para uma pessoa só!

A.K. sempre atencioso pergunta qual prato gostei mais e pede para eu aguardar um minuto que já me ajuda a ir embora.

Ele me leva à porta, indo na frente e eu com as mãos em seus ombros atrás, e me entrega à recepcionista. De volta à luz, levo uns segundos para me adaptar. Sento na varanda para ver os pratos do cardápio mas também acho que é para se acostumar com a luz.

No meu resultado de achismos gastronômicos saí na média. Algumas acertei em cheio mas outras errei feio, principalmente as sobremesas.

Vale a pena a experiência de jantar em um restaurante no escuro?

Vale! O jantar sensorial é bastante interessante para descobrir como usamos pouco nossos outros sentidos. A percepção de sons à nossa volta, o aroma vindo dos pratos, o sabor de cada ingrediente e o uso do tato para identificarmos o tamanho do prato, sentir o material da mesa e do copo, enfim… uma viagem sensorial que nos faz olhar para o mundo através de outra perspectiva.

Mas para mim está experimentado. Não é daqueles lugares para você bater ponto em cada país onde vai.

Comentário extra atualizado em março de 2019: Como já faz 2 anos que vivi esta experiência, já estou com vontade de ir de novo em outro país!! Nada como deixar o tempo passar!!

O único porém deste dia é que eu estava sozinha e foi um dos poucos momentos em que senti falta de uma companhia para trocar impressões sobre os pratos e rir com a experiência.

Por que escolher o restaurante no escuro em Kuala Lumpur?

Sem dúvida é um dos restaurantes mais baratos desse modelo. Paguei 150 ringgits, o equivalente a 110 reais. Em Paris, no Dans Le Soir, o menu degustação de três pratos começa com 51 euros e, em Londres, a partir de 54 libras.

Dicas:

Não force a vista para tentar enxergar lá dentro. Além de inútil, você poderá sair com dor de cabeça.

Se você reservar online, ganha 14% de desconto.

 

Restaurante Dining in the Dark

O quê: experiência de restaurante no escuro

Onde: Kuala Lumpur, Malásia

Endereço: 50A Changkat Bukit Bintang

Horário: diariamente de 18h30 às 21h30 (último horário)

Quanto: a partir de 118 ringgits, mais bebidas e taxas

Site: dininginthedarkkl.com

Dress code: esporte fino

 

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